NEE no ensino superior: dados e testemunhos

14-05-2023

Os problemas que os estudantes com necessidades educativas especiais passam na Universidade de Coimbra não são, ainda, um tópico discutido o suficiente. E, neste sentido, ainda existem muitas barreiras, quer por inacessibilidades, quer, em muitos dos casos, pela dificuldade de adaptação e de integração das pessoas com deficiência.

As dificuldades que pessoas com deficiência têm, afetam o dia-a-dia, nomeadamente na higienização, na alimentação, na capacidade social e de aprendizagem e na retenção de conhecimentos.


Seguem-se alguns dados sobre as NEE no Ensino Superior.


De acordo com as respostas ao inquérito da DGEEC, no ano letivo 2021/2022, em Portugal, haviam 2779 estudantes com NEE no Ensino Superior:

  • 12,2% - Doença Crónica
  • 11,1% - Limitação Motora
  • 10,2% - Perturbação de Aprendizagem
  • 10,1% - Perturbação do Espectro do Autismo
  • 9,4% - Perturbação de Défice de Atenção
  • 8,1% - Doença Mental
  • 6,1% - Limitação Visual / Cegueira
  • 5,5% - Limitação Auditiva / Surdez
  • 3,9% - Doença Oncológica
  • 2,1% - Perturbação Neurocognitiva
  • 0,8% - Perturbação do Desenvolvimento Intelectual
  • 0,4% - Limitação de Fala
  • 20,1% - Outros


Dados de pessoas com diferentes adaptações:

  • 76,5% - Adaptação de tempo de execução de trabalhos e exames
  • 47,7% - Acesso Época Especial de exames
  • 13,0% - Adaptação do regime de frequência de aulas
  • 10,3% - Adaptação de Espaços
  • 9,6% - Adaptação dos Instrumentos de Avaliação
  • 8,6% - Prioridade nos atos administrativos
  • 5,2% - Adaptação das respostas em provas
  • 4,4% - Autorização de Gravação de Aulas
  • 3,79% - Autorização para ser acompanhado por terceira pessoa
  • 3,2% - Alteração do plano de estudos
  • 2,2% - Alteração dos conteúdos curriculares
  • 15,2% - Outra


88,9% dos estudantes com NEE estão no Ensino Público e 11,1% no Privado (na totalidade, 18,7% dos estudantes estão no Privado). 


Francisca Tralhão | Jornalismo e Comunicação 

Por ainda não ter carta de condução, sempre que me tenho de deslocar a algum sítio tenho de pedir boleia a alguém, pois o sítio onde moro não é propriamente plano, de forma que me possa deslocar sozinha sem qualquer entrave. Porém, nem tudo é mau: em relação a estabelecimentos comerciais, como, por exemplo, um shopping, normalmente têm sempre acessibilidades e o único entrave que vejo é os lugares de dístico de estacionamento que são pequenos para aquilo que seria de esperar. Em Coimbra, o que mais me incomoda é sempre que tenho de ir a algum sítio, como por exemplo, restaurantes, tenho sempre de confirmar primeiro se tem ou não acessos, mas caso não tenha, faço uma chamada de atenção para o problema em causa.

Relativamente à minha vida académica, mais concretamente na Universidade em si, acho que, sendo uma instituição bastante prestigiada e supostamente inclusiva, devia perceber melhor junto dos alunos com mobilidade reduzida o que eles efetivamente sentem, pois há coisas que deixam muito a desejar, como, por exemplo, as cantinas não serem 100% acessíveis, até porque aquelas que o são, até lá chegar é preciso percorrer "a pé" um caminho que, por vezes, não é o melhor. Apesar disso, penso que já haverá um cuidado nesse aspeto, mas tenho receio que ainda não será o suficiente.

Em relação à FLUC, tenho a dizer que fui surpreendida pela positiva porque até agora não tive qualquer tipo de problema a nível académico no que diz respeito aos acessos. Contudo, o bar devia ser acessível a todos, o que atualmente não acontece, mas acredito que futuramente esse problema seja resolvido.


Andreia Dias | História 

Sou estudante de História na Faculdade de Letras e tenho dislexia, mas também défice de atenção. Assim sendo, conforme o estipulado, venho dar-vos a conhecer a minha experiência na Universidade de Coimbra. Como tenho o estatuto do estudante com necessidades educativas especiais poderei mencionar o seguinte:

Relativamente à minha inscrição no ensino especial, esta foi um pouco complicada porque no dia da matrícula informaram-me que iria receber um email que, apesar de tudo, ainda não recebi. Por acaso, conheci o Diogo Nolasco, aluno da nossa instituição que também tem NEE, numa aula de paleografia, que tentou perceber a minha situação. Tivemos de contactar os serviços de apoio ao estudante, nomeadamente do ensino especial, para fazer uma entrevista com a Doutora Ana Dinis, que ficou com o meu processo. Sendo assim, tenho que agradecer ao Diogo, pois, se não fosse ele, não saberia como proceder.

Deste modo, penso que, durante o ato da matrícula, deveria haver coordenadores para informar estes alunos como deveriam proceder para ter o estatuto do ensino especial da universidade.


Lua Eva Blue | História da arte 

Como estudante autista, tenho vindo a perceber que o que mais me ajuda ou ajudou não são necessariamente as medidas que negociei com os SASUC mas sim o sistema de apoio que se cria entre colegas de curso e o nível de profissionalismo de cada docente (ex: se redigem os sumários segundo o Regulamento da UC). Como alguém que está a demorar mais dois anos do que devia para acabar a licenciatura, posso dizer que no inicio, quando conhecia mais pessoas era muito mais fácil conseguir apontamentos (tenho dificuldades a prestar atenção e a tirar os meus). É precisamente a cultura da solidariedade estudantil aquilo que antes de mais devemos preservar. Ainda assim, amigos e colegas não são um substituto para a Ação Social - aqui entro no que acho que deve melhorar. Como não tinha como pagar mais rendas de quartos, não consegui encontrar nenhum trabalho que me fosse acessível e nem consegui nenhum dos PASEPS dos SASUC a que me candidatei, tive de sair de Coimbra neste 2º Semestre de 2022/23. Sabe-se agora, por uma recente entrevista ao reitor da UC, que nem metade do orçamento para a ação social foi usada. Tendo em conta a minha situação, questiono-me se isso acontecerá mesmo porque os estudantes não precisam de apoios ou se é porque apoios que não existem não podem pedir orçamento.


OUTRAS INFORMAÇÕES:

Os dados apresentados na Parte 2 vêm de um inquérito sobre as NEE e podem ser vistos no 1º Boletim Trimestral da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (Janeiro de 2023): https://info.dgeec.medu.pt/1/14/ 

Para outro testemunho de outro aluno NEE da UC sobre estar em Coimbra com mobilidade reduzida, podem ouvir o 1º episódio do podcast 'Endireitar' da Secção de Defesa de Direitos Humanos da Associação Académica de Coimbra (não existe transcrição)

Para testemunhos sobre ser autista na faculdade e que medidas podem ajudar os estudantes, a Associação Portuguesa Voz do Autista tem um vídeo de um webinar no YouTube com esse tema (não legendado) "Necessidades Educativas Especiais e Autismo na Universidade"

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