Beatriz Vasconcelos

Por mim apagava tudo! Tudo aquilo que vivi até hoje, com uma borracha verde partida ao meio, depois, desfazia-me dos restos do farelo que sobravam, atirava-os para o chão, como se aí pudessem desaparecer…. Vem a senhora que limpa o chão e, com ela, leva tudo. Leva tudo o que vivi até hoje! Sobra-me o nada e, com ele, vou para casa pedir a outra metade da borracha.

E quantas vezes tive de pedir a outra metade da borracha, para apagar os erros que escrevia, menos aqueles que cometia? Chegava ao fim do dia e lá eu ia pedir a outra metade que faltava, e a borracha apagava, mas o erro… ficava!

De quantas borrachas eu precisei para apagar os erros fossem eles sobre gramática ou sobre a tabuada? Metade da gramática e metade da tabuada, que era a única a fazer sentido. Quantas metades da borracha é preciso pedir para se apagar tudo?

Por mim, apagava tudo o que vivi até hoje, mas não começava logo a escrever, nem com o mesmo lápis, nem com a metade da borracha na mão, porque a borracha é só metade, e eu também.