"Árvores", por Miguel Santos

15-02-2023

Hoje o Hermes traz-te mais uma contribuição de Miguel Santos, aluno de 1ºano do curso de Jornalismo. Para ler o texto na íntegra, clica no link da nossa bio.


Se tivesse mesmo de fazer um texto sobre porque gosto das árvores. Se disso dependesse a minha vida e me apontassem uma arma à cabeça (sem hipótese de mentir), diria que as amo. Depois viria uma maior explicação disto que não se explica, a investigação dos pormenores desta simples paixão. Amo as árvores pela originalidade. Quem quer que as tenha criado, um Deus, ou o Acaso, foi original, e fê-las com uma peculiaridade bonita que se ramifica de forma estranhamente íntima e universal. Pelo menos (e perdoem-me, por favor, se estiver errado) é o que sinto. Sempre que estou ao pé delas tenho um sentimento diferente, há algo que muda para além da sua presença, e a alteração ultrapassa inclusive essa nova sensação que experiencio. Os meus momentos são ramos a vibrar ao sabor do Tempo, as minhas emoções folhas que caem quando caírem, e toda a minha alma ramifica-se-me no pensamento como as raízes poderosas e discretas. Mas, Santo Deus! Tenho mais a dizer! Ainda há, claro, o tronco. Embora não lhe seja dada a devida importância, ele é que permite, tal qual sinto o Amor na minha vida, a existência de uma estrutura central e rija que possibilita todas as outras coisas viverem e serem bonitas. Amo a bondade impessoal das árvores. Só com o seu silêncio (que é um silêncio diferente dos outros!) fico mudado, e transmitem, através dos seus braços coroados a oscilar ao ar apressado, um espetáculo que acalma a ebulição do meu coração. Nos dias em que o Sol me dá um abraço apertado, quando a chuva isola, ou o vento me atropela aos encontrões, tenho o abrigo destas esculturas de madeira que, usando o solo como eixo de simetria, mantêm um equilíbrio perfeito para crescer o mais alto que der. Mas também as uso para me abrigar dos meus pensamentos, ou por me sentir protegido sem que sequer algo exista para me atacar. Além disso, gosto delas por serem maiores do que eu. Assim consigo olhá-las de baixo, apreciá-las do início ao fim com uma sensação de inferioridade aconchegante e um fascínio abismal. As árvores fazem sentido. É isso que amo nelas. Vejo-as e sinto que me olho. Reparo nelas e, estranhamente não estranhamente, concordo com elas. Mediante uma viagem repentina e inexplicável, chega a mim este amor desconhecido e são, no imediato, minhas amigas como se já as tivesse conhecido. Talvez isto seja mentira, mas não importa. Afinal não tenho de fazer um texto sobre porque gosto das árvores.

- Miguel Santos

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