Abstenção Jovem
Para o ano comemoram-se os 50 anos desde o dia em que
Portugal voltou a respirar. O dia em que o povo português voltou, finalmente, a
ser livre.
Contudo, parece que 4 décadas de opressão, perseguições e
violência não foram suficientes para marcar a história do nosso país como
deveria ter acontecido.
A nova descredibilização nos partidos de esquerda e o
crescente apoio a partidos autoritários, transportam-nos de volta aos dias em
que nos foi prometido um novo Portugal, fundado em Deus, na Pátria e na
Família. Porém, tudo o que recebemos foi um Portugal mergulhado numa ditadura,
repleta de caos e medo.
Todavia, para além desses sentimentos, também existiram
outros, como por exemplo, a indignação. A indignação que nos levou à raiva, e
que, por sua vez, nos levou à ação.
Demorou anos. Perdemos imensas pessoas pelo caminho - boas
pessoas. Mas é como dizem, certo? "O que não nos mata, torna-nos mais
fortes". E por cada pessoa caída, outras dez levantaram-se. Por cada voz
silenciada, outras mil gritaram no seu lugar.
Jovens, Adultos, Idosos, Homens, Mulheres, todos unidos por
uma só causa.
Então, pergunto-me: o que nos aconteceu?
O que aconteceu a todas aquelas pessoas que enfrentaram a
PIDE, o Estado Novo, tudo e todos, sem receios?
O que aconteceu a todos os militares que foram contra tudo o
que lhes foi instruído e escolheram defender Portugal do verdadeiro inimigo?
O que aconteceu aos estudantes que não se calaram e
acenderam a faísca da revolução?
O que aconteceu a todas aquelas pessoas que decidiram sair à
rua protestar, sabendo que poderiam não regressar?
Quando foi o momento em que decidimos voltar para casa e
conformarmo-nos? Quando foi o momento em que desistimos?
Muitos dizem que o 25 de Abril só foi possível graças à
intervenção das forças armadas.
Bem, eu digo que sem os protestos dos estudantes de Coimbra,
em 1969, a história poderia ter tomado um rumo bastante diferente.
Foram eles, fomos nós, que erguemos Portugal das cinzas. Que
mostrámos que ainda tínhamos luta para dar. Que formámos o símbolo da resistência.
50 anos depois, onde estamos nós?
A fugir e a ignorar uma luta que já batalhámos uma vez e
ganhámos, mesmo contra todas as probabilidades.
Por isso, volto a perguntar, onde estamos, onde estão?
Não é assim que a nossa história acaba. Não pode ser.
Devemos isso a todos aqueles que vieram antes de nós e a
todos aqueles que virão mais tarde.
Somos o povo dos descobrimentos, dos aventureiros, dos
destemidos.
Aqueles que ousaram ir a onde mais ninguém sequer pensou.
Onde está essa coragem?
Está na hora de voltarmos às ruas e dizer-lhes que nos
lembramos. E que não vamos deixar que volte a acontecer.
É apenas preciso uma centelha para a floresta arder inteira.